Autor (poesia/imagem): Danízio Dornelles
Meu arado-poema tem sangue, pele,
Alma,
sonhos e vida...
É
o predestinado pela força dos homens
A
romper a virgindade simples da terra,
Que
se entrega feito a um amor.
Ele
bebeu do suor de quem o empunha
Na
claridade dos dias
E
na miscigenação das noites!
O arado-poema
Não
abre covas,
Não
tortura inocentes,
Não
maltrata as flores que surgem pelo caminho...
Ele
conhece os segredos das sementes
Que
serão vida na mesa dos libertos!
O arado-poema
Divide
e não acumula,
Fortalece
e não aniquila;
Planta
sonhos que mais tarde florescerão
Nas
retinas puras de um menino.
O arado-poema
É
irmão das enxadas,
Das
sementes,
Das
mulheres,
Dos
braços,
Das
mãos,
E
dos sonhos;
Ele
sabe que o mesmo vento que corta a face
E
sangra o olhar nas manhãs de inverno,
Será
um dia a fonte vigorosa a soprar o rubro sonho
Que
sempre existiu hasteado no interior de nossas almas!
O
meu arado-poema
Tem
mais dos outros do que de mim...
Ele
viu a terra ser manchada
Pelo
sangue dos poemas silenciados
Que
estavam a lutar;
Viu
arados silenciados pela ira da ganância...
Viu
a ganância, de perto, a nos rondar,
E,
ainda assim, persistiu,
Porque
o arado-poema sabe,
Que
mesmo que tudo acabe,
É
preciso sempre plantar...